É tempo de rabiscar!

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É que, se parar pra pensar, a página em branco sempre me atraiu mais

Créditos: Florian Klauer/Unsplash

Vi um curta esses dias chamado "A Redação Proibida" e entre encontros e desencontros, a personagem basicamente ficava entre o êxtase da possível eureca criativa e o desperdiçar essa folha com um registro irrelevante. Isso, é claro, me fascinou. Tenho uma certa queda por impasses, dizem ser mal do meu signo, mas acho que é só uma coisa que veio comigo, sabe? Teorias à parte, aquilo me pareceu mais do que um retrato fiel do que vivenciamos (ou deixamos de vivenciar) todos os dias. Após o ritual diário de acordar, escovar os dentes, tomar café e sair para desbravar a vida no mundo lá fora, salvo adaptações dessa rotina, nos deparamos com um espaço em branco a ser preenchido, e fica pra nós a tarefa de escolher fonte, conteúdo, orientação e parágrafos.

  Sempre detestei a parte de formatação dos trabalhos, desde o ensino médio até a vida acadêmica. No meu ponto de vista, aplicar as tais normas nacionais era uma ofença ao espírito criativo do estudante, tirando um pouco da  individualidade que poderia ser transmitida se simplesmente lhe permitissem usar a Lucida Console ao invés da Times New Roman. O conteúdo, a essencia ainda seria a mesma, então por que raios padronizar sua apresentação? Voltando, o dia passa e entre o intervalo de sair de casa pela manhã e voltar à residência ao fim do dia  é que manchamos, rasgamos, personalizamos ou encaramos essa tal de folha.

  Hoje, por exemplo foi um dia de só apreciar. Olhar, olhar e não produzir. Talvez pelo medo da rasura, olhar o leque de possibilidades e ser incapaz de optar por uma pra preencher a vastidão de A4 que foram essas 24 horas. Não vejo problema algum em dias assim, apesar de saber que repetir isso no livro inteiro não vai resultar em uma obra literária e nem ao menos uma notinha de rodapé.  Às vezes, sai uma poesia estilo Whitman; outras, mais parecido com Stephen King; e por que não, Tati Bernardi? Uma lista de mercado ou o rabisco de uma melodia, quem se importa quando o que vale, é deixar uma marca? Sua relevância ou não, não é perpétua. Varia de leitor para leitor. Porque no final das contas, se trata disso. Sempre vai haver um leitor disposto a ler o que temos escrito ao longo desses anos, mas se ele chega e não vê registros, vai ler o quê? Ou seja, faça suas anotações sem se importar em seguir determinado gênero porque a demanda é maior, muito menos fique com medo de fazê-las e assim, acabar estacionado no zero.

  Sim, ainda estamos falando de vidas e não de livros, mas o principal conselho pra um escritor se encaixa perfeitamente: escreva pra você mesmo e então, publique ou não. Que diferença faz eu preferir passar o dia andando no centro histórico da cidade ouvindo The Script nos fones, no lugar de estar em uma palestra entediante mas que "agrega valores ao seu currículo profissional"? Se eu acordar disposta à olhar um tutorial de massa de modelar caseira ao invés de um documentário sobre a cultura aborígene, vou fazer sem peso na consciência. É só isso, não é muito difícil. É acordar, preparar o bloquinho e anotar o que tiver vontade, porque o tempo é de escrita livre!

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